Contos de Ernane Martins

sábado, 26 de novembro de 2016

Você sempre soube quem eu era


Em uma aldeia vivia uma linda menina com sua família, Um dia, ela estava voltando da escola, era tempos de inverno e havia muito neve, quando ela se deparou com uma cobra, que a abordou:

- Por favor, me ajude, estou com muito frio, e machucada, não sobreviverei a essas colinas geladas, me leve para sua casa.

A menina pensou, pensou...  Num determinado instante, teve um pensamento súbito: se eu levar essa cobra para casa, tratarei dela e ela será minha amiga, ninguém na escola mexerá mais comigo. Então a menina enfiou a cobra na mochila e foi,,,

Ela tratou a cobra com todo carinho, deu alimento. Levava para a escola e seus coleguinhas ficavam amedrontados quando a via, portanto não mexiam com a menina. Enquanto isso a cobra ia ficando forte e sarada de seus machucados,,,

Quando a cobra já estava pronta para voltar para seu habitat natural, como em um passe de mágica,  ela deu um bote no pescoço da menina, depositando seu veneno fatal. A  menina com lágrimas no olhar apenas perguntou:

- Como pode fazer isso comigo? Eu cuidei de você quando mais precisou, te dei comida, sarei suas feridas expostas, e te dei carinho. O que te faz me pagar assim?

Então a cobra saiu rastejando e apenas respondeu:

- Pois você sempre soube que eu era uma "cobra".

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A Barata da Vizinha


É engraçado contar essa história. Aconteceu numa festa. Mas não fui convidado e nem entrei como penetra, mas foi como se estivesse presente na festa, visto os convidados, a animação, os comes e bebes, a bagunça e a bendita banda que começou a tocar a meia-noite.

Era a festa de inauguração de um casarão, no alto do morro, na rua oposta aquela que resido. O casarão se localiza há uns 50 metros da minha casa, que se encontra quase no comecinho do morro. 

Ao anoitecer, eu tinha ouvido o som da festa, nada exagerado, nada que pudesse me causar algum incômodo. Já estava quase chegando a meia-noite e a inauguração, no meu ingênuo palpite, seguia em ritmo de encerramento, com todo mundo já tendo jantado. Fui me deitar certo de que o barulho que ouvia não atrapalharia meu sono. De repente, a meia-noite em ponto, uma banda começa a tocar em alto volume.  

Quem disse que conseguia dormir com a voz do cantor dentro do meu ouvido, junto com os instrumentos musicais, com aquela música que ia do rock a MPB, passando por outros ritmos, sempre brasileiros. 

O que me tranquilizava um pouco era saber que a banda, que imaginei que havia sido contratada pelo dono do casarão, logo encerraria o show. Então conseguiria dormir mesmo perdendo umas duas horas de sono. 

Ledo engano. Acho que já passava das duas horas da manhã e a banda seguia com o show, parecendo cada vez mais animada. Cheguei a conclusão que a banda deveria ser integrada pelos parentes dos donos do casarão. Por isso que ela não encerrava as suas atividades e nem dava ares de que se encerraria. 

Tive vontade de chamar a polícia. Mas nunca fui um estraga prazer. Esperei que os vizinhos fizessem o trabalho sujo por mim. Esperei a toa, porque eles não fizeram. Outra hora, pensei em me levantar da cama e ir até o casarão, reclamar do som, até que horas que vai essa droga de festa aí. Quem sabe eles não me convidassem para participar da festa, oferecesse uma cerveja e um prato saboroso. Quem sabe eu não aceitasse o convite e não começasse a me divertir na companhia deles. Porém só me mexia para virar de um lado pra outro da cama. 

4 horas da manhã, então começou a tocar a música A Barata. 

  Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.
Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.

Diz aí Luis Fernando o que "cê" vai fazer

O cantor levou o microfone até próximo de alguém, que cantou e falou, desafinado:


Eu vou comprar um chicote pra me defender.
Diz aí Luis Fernando o que "cê" vai fazer.
Eu vou comprar um chicote pra me defender.

Ele vai dar uma chicotada na barata dela
Ele vai dar uma chicotada na barata dela
Ele vai dar uma chicotada na barata dela
Ele vai dar uma chicotada na barata dela

Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.
Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.

Esse pagode da Barata da Vizinha se deixar vai embora, não tem hora pra acabar. Pelo jeito, por estarem participando da música, os convidados estavam animadíssimos, e eu ficando cada vez mais irritado. “Vou dar uma paulada na barata dela... Vou dar uma furada na barata dela. Vou dar uma esporada na barata dela”. A música estava caminhando pela sacanagem; e eu já revoltado, passando pela minha cabeça uma imagem lésbica, pensei: porque ninguém diz que vai dar uma encoxada na barata dela. Pior é que, logo depois, uma mulher cantou que ela ia dar uma encoxada na barata dela.

Pela enésima quadragésima vez, o pagode da barata voltou ao início:

Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.
Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.

Diz aí Vitória o que "cê" vai fazer.

Silêncio ao microfone, pela primeira vez. 

O cantor, os convidados e a banda repetiram a canção, deram um pouco mais de tempo para Vitória pensar numa palavra que daria ritmo a música, para continuar a brincadeira, a diversão. Quem sabe ela não foi pega de supetão. 

Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.
Toda vez que eu chego em casa,
a barata da vizinha está na minha cama.

Diz aí Vitória o que "cê" vai fazer.

A Vitória não abriu a boca. Devia estar sentada numa mesa ao ar livre e com cara de quem estava de saco cheio da festa, cansada de ouvir pela enésima quadragésima vez essa música enjoativa da barata e estava querendo ir pra casa dormir. Igual o que eu estava tentando fazer. 

Ao se recusar a participar da brincadeira, a Vitória literalmente acabou com o pagode da barata da vizinha. Na verdade, ela acabou com a festa. Abanda cantou mais ou duas canções, mas sem o mesmo entusiasmo de antes. O som da música foi baixando mais e mais, até que parou de vez, com uma microfonia daquelas que doem. 

Então, graças a Vitória, o sossego voltou a tomar conta da vizinhança e eu pude dormir.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A origem dos Contos de Fadas. A Princesa e o Coitado do Sapo




Esqueça o lindo romance que sobrepujou preconceitos e uniu A Princesa e o Sapo. Quando surgiu, a história falava sobre amizade: uma princesa mimada perdia sua bola favorita e um sapo falante se oferecia para encontrá-la. Surgia assim uma bela parceria – e o bicho até ia morar com a garota. Mas, certo dia, irritada com o amigo grudento, a princesa arremessava o coitado na parede! E, para nossa surpresa, era isso que quebrava a maldição: ele se revelava um lindo príncipe. Ou seja, nada de beijo, nada de amor verdadeiro: o casal só ficou unido porque brigaram muito e partiram para a porrada!

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Origem dos contos de fadas. Versão Canibal dos 3 Porquinhos



O canibalismo, assim como a violência sexual, davam o tom em muitas das narrativas que virariam os contos de fadas modernos. Na história dos Três Porquinhos, o terceiro porco, aquele que construiu a casa de tijolos que o lobo não consegue derrubar com seu sopro, é o que se dá bem em todas as versões. Na narrativa oral original, ele não se importava nem de comer os próprios irmãos. Nela, a esperteza e a resistência do terceiro porco em cair em tentações que prometem recompensas imediatas, mas comprometem o futuro, é enfatizada com detalhes de crueldade e canibalismo. O lobo devora os dois primeiros porquinhos assim que consegue destruir suas casas. Ao tentar entrar na residência de alvenaria do terceiro, usando a chaminé, ele acaba morto ao cair numa armadilha com um caldeirão de água fervente que o esperava no final da descida. O terceiro porquinho então prepara e devora, sem dó nem piedade, o lobo que levava seus dois irmãos no estômago.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A Bela Adormecida Estuprada


Continuando com a série A Origem dos Contos de Fadas, A Bela Adormecida

Essa sim tem um passado bizarro. Nas primeiras versões, ao invés de espetar o dedo numa agulha e cair desacordada, a bela adormecida tinha uma "farpa" encravada debaixo da unha. Parece uma mudança pequena, mas ela nos leva ao ponto que realmente importa. Nessa mesma versão, o príncipe não é tão encantado assim, e resolve, digamos... se satisfazer na bela ainda adormecida. Depois de satisfeito, ele simplesmente vai embora. Nove meses depois, a adormecida dá luz a gêmeos que, em busca de leite acabam acidentalmente chupando o dedo dela, retirando assim a farpa amaldiçoada.

E a coisa não para por ai, o príncipe que a engravidou (estuprou) continuou voltando (se é que vocês me entendem) durante os nove meses. Quando ele chegou lá e encontrou a bela, já não mais adormecida e com duas crianças, ele decidiu se casar com ela (pelo menos isso, né?), mas ele não poderia levá-la ao seu castelo, pois sua mãe era uma OGRA! (o feminino de ogro é ogra?) que tinha o habito de comer qualquer criança que aparecesse em seu caminho.

Por isso ele esperou alguns anos até que seu pai morresse e ele virasse rei para aí então poder levar sua mulher para seu reino. E assim aconteceu, mas na primeira viagem que ele fez, sua mãe ogra resolveu fazer o que todo ogro tem que fazer: comer seus dois netos, e não satisfeita, também sua nora. Mas, com a ajuda do cozinheiro a bela acordada conseguiu se esconder até o retorno de seu marido (rei “half-ogro”), que quando ficou sabendo dos planos de sua mãe (ogra) mandou mata-la. Bunito né!?

Em outras versões, o príncipe na verdade já era rei, e a mãe ogra era a esposa do rei, o resto é bem parecido. A esposa ciumenta quer, como vingança, comer (no sentido alimentício) os dois filhos bastardos do rei, mas acaba sendo descoberta e é queimada viva numa fogueira. Moral da história, se você encontrar uma mulher desmaiada num bosque, se divirta e não volte nunca mais; ou, se você for uma ogra, não tente comer seus netos; ou ainda, se vocês for uma mulher adormecida no meio do bosque, use cinto de castidade, ou ainda, não espete seu dedo numa agulha amaldiçoada!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Cinderela Assassina



A história de Cinderella teve várias versões antes de virar o conto de fadas sobre uma mocinha boazinha e injustiçada consagrado nos desenhos animados da Disney. O italiano Giambattista Basile a chamou de Gata Borralheira e na sua versão ela se alia à governanta para assassinar a madrasta malvada. O plano era simples, esperar o primeiro vacilo e atacar. Um dia a madrasta agacha-se para pegar roupas num baú e a Gata Borralheira não pensa duas vezes para ir lá e fechar a tampa na cabeça da megera. Já para os irmãos Grimm, não é Cinderella quem a mata e sim pombos que comem seus olhos. Além do ataque dos pássaros, essa versão traz as irmãs cruéis de Cinderella fazendo qualquer coisa para que seus pés entrem no sapatinho de cristal levado pelo príncipe. Elas não se importaram de cortar fora dedos ou arrancar pedaços dos calcanhares para que o calçado servisse nelas, elas passam o resto de suas vidas como mendigas cegas enquanto Cinderela vive no castelo do príncipe. Esse conto tem suas origens por volta do século I a.C, no qual a heroína de Strabo se chamava Rhodopis, não Cinderela. A história era muito parecida com a atual, com exceção dos sapatinhos de cristal e da abóbora.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

João e Maria ( Assustador)


Essa por si só já é assustadora, afinal, um pai que larga os filhos na floresta para morrer de fome não é lá o tipo de coisa que se lê para crianças certo!? Mas, numa versão mais antiga, a madrasta má, que pressiona o marido a lagar seus filhos na floresta, e a bruxa má são a mesma pessoa. Achei isso bem esquisito, mas as duas personagens tem personalidade bem similar. Outra alteração feita durante os anos foi com relação à própria bruxa que, em certa versão da história, na verdade é um casal de demônios, e ao invés de cozinhar João, eles querem estripa-lo num cavalete de madeira.

Quando o demônio "macho" sai para uma caminhada, a "demônia" manda Maria ajudar João a subir no cavalete, assim, quando seu marido voltar, tudo já estaria preparado. A esperta Maria finge não saber como colocar João deitado e pede para a "demônia" mostrar como se faz. Quando ela deita no cavalete, João e Maria a amarram ela e rapidamente cortam sua garganta. Depois fogem levando o dinheiro e a carroça do pobre casal de demônios.

sábado, 5 de novembro de 2016

A Tristeza da Pequena Sereia


Uma historinha cheia de mutilações, traição e tragédias. Essa é a atmosfera da narrativa escrita pelo dinamarquês Hans Christian Andersen no século 19 e que virou um dos clássicos dos contos de fadas em versões amenizadas, como a da Disney. Na história original, há sangue para transformar sua cauda em duas pernas, mas a cada tentativa de andar como uma humana elas doíam e sangravam para os lados. A pequena sereia chamada Ariel deseja se tornar humana para poder conquistar o príncipe por quem se apaixonou. Na sua sina, teve a língua cortada pela Bruxa do Mar e tentou fazê-la sofrer bastante. Para piorar, o tal príncipe a menosprezou e preferiu casar com outra. Quando Ariel vê o príncipe casar-se com outra e entra em desespero. Oferecem-lhe uma faca com a qual ela poderia matá-lo, mas, em vez disso, rejeitada, não lhe restou alternativa a não se matar pulando no abismo. Até o próprio Andersen achou que pegou pesado demais e mudou o final. Na versão amenizada, em vez de cometer suicídio, a pequena sereia transforma-se em espuma do mar. Em outra versão ela se torna “filha do ar”, esperando ir para o céu. De qualquer forma, ela morre.


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O Flautista de Hamelim


Um flautista contratado para livrar o povoado de Hamelin de uma infestação de ratos cumpre sua parte do acordo, atraindo com a música que sai de seu instrumento mágico os roedores para fora da cidade. Na hora de receber o pagamento, ele leva um calote. Na versão "conto de fadas", sua vingança é usar a flauta mágica para atrair todas as crianças para uma caverna e prendê-las lá até que receba o que lhe prometeram. Após o pagamento, ele as liberta. Mas na versão original, que surgiu provavelmente na Idade Média, nos territórios que formariam a Alemanha, o final não é nada feliz. Após levar o calote, o flautista atrai as crianças para um rio onde elas morrem afogadas. Há várias teorias sobre o que o flautista de Hamelin simbolizaria nas narrativas orais antes de virar uma história para crianças. Para alguns, ele seria a representação de um serial killer, para outros uma metáfora para as epidemias que dizimavam populações, como a peste, e para muitos remetia ao processo de migração para colonizar outras regiões da Europa. 

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Sine cera

Moisés, a estátua de mármore de Michelangelo

Alguém sabe qual a origem da palavra sincero? Eu também não sabia até alguns dias atrás. Na antiga Roma, os escultures faziam as suas obras de arte em pedras de mármore. O que acontecia quando o
escultor errada a mão e fazia um buraco onde não devia em sua estátua? Em vez de descartar a pedra inteira e começar tudo de novo, ele cobria o buraco com cera, da mesma cor do mármore. 

Só que os clientes davam mais valor a escultura que não tinha nenhuma falha. Nessa época já existia desonestidade, escultores não contavam sobre as imperfeições de suas estátuas de mármore. Na hora da compra, o cliente não percebia as falhas. 

Mas depois de um tempo as imperfeições vinham à tona e se descobria que era uma escultura "cum cera".Sabedores dessa fraude, os escultores honestos faziam questão de ressaltar que suas estátuas eram "sine cera", ou seja, eram sinceras, verdadeiras, autênticas, honestas.
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