Esse é um conto meu, do meu livro Brisa e Vendaval. É uma história baseada em fatos reais, Vi na tevê uma vez. Só criei os personagens e imaginei os fatos que poderiam ter acontecido entre eles, os detalhes para essa moça vir a adquirir os três peitos e terminar de uma forma surpreendente e controversa. Chamo esse conto de Imaginação.
Imaginação
As antigas namoradas diziam que Celso não valia nada, falso,
mentiroso, canalha. Só porque tem o pai rico achava-se no direito de
falar e tratar a namorada da forma que bem entendesse. Não gostava
muito de ser contrariado. Deixava transparecer com facilidade a
insatisfação pela namorada com o decorrer do relacionamento.
A má fama de Celso se espalhava pelo campus da Uniatóri e por
outros locais em que ele marcava presença. Mesmo assim, havia muitas
garotas que ignoravam as mensagens claras de advertência e se
encontravam dispostas a aceitar o convite para sair com ele. Celso é
um homem charmoso, tem um carro esporte de cair o queixo, frequenta
os melhores bares e boates da cidade.
Ele estudava Administração havia três anos e nunca prestara
atenção nas moças do baixo clero da faculdade. Tinha a impressão
de que nenhuma daquelas plebeias podia despertar nele algum
interesse. Mas mudou completamente de opinião quando esbarrou com
Janaína no corredor. Ele foi tragado para dentro do decote dela e
depois olhou encantado para a face da estudante.
Janaína virou o rosto e seguiu adiante. Celso correu atrás dela e
pediu desculpas pelo esbarrão. Não foi com esse gesto que ele
ganhou a moça, mas metade do caminho já tinha sido percorrida.
Do beijo na boca ao motel foi um pulo. Ao despi-la lentamente, ele
ficou deslumbrado ao ser apresentado aos seios dela. Eles não eram
somente belos, eram as duas esculturas mais bonitas já vistas. Não
eram grandes como melão ou pequenos que nem gema de ovo. Eram do
tamanho ideal. Eram duas maças retas, macias e carnudas. Duas rochas
tão firmes que a lei da gravidade não seria capaz de despencá-los.
Ele constatou, principalmente com as mãos, que aquilo não se
constituía numa fantasia. Tratava-se da mais pura e deliciosa
realidade.
O namoro veio para coroar a felicidade que ambos evidenciavam quando
estavam juntos. Ele continuou seguindo de vento em popa. Janaína não
tinha reclamações ou queixas a fazer do namorado. Celso vivia quase
única e exclusivamente para ela. Não tinha olhos para outra mulher.
Com o casal se conhecendo cada vez melhor e se tornando cada vez mais
íntimo, ficou mais límpido que água cristalina que os seios eram a
parte do corpo de Janaína que Celso mais gostava. Considerava-os
exuberantes e inigualáveis. Adorava levá-la para a cama,
simplesmente para admirar, usufruir e ser proprietário daqueles dois
monumentos sinuosos. Após o sexo, nus, ele sempre ficava
acariciando, com suavidade e ternura, aquilo que mais amava e a sua
imaginação se perdia enquanto os contornava.
Numa dessas ocasiões, porém, um pensamento passou por sua cabeça.
Era tão esquisito que ele teve vergonha de comentar com a namorada.
Alguns dias se passaram, e a ideia que se apresentou naquela
inusitada noite não saía da cabeça. Ele imaginava a cena e
delirava de prazer. O desejo aumentou de tal forma que ele, num
quarto de motel, revelou a Janaína o que o perturbava e o que tanto
queria.
– Sabe Janaína, eu te adoro tanto – disse Celso, acariciando-a
depois de transarem.
– Claro, amor. E como… – respondeu ela, rindo, referindo-se ao
que tinha de mais bonito.
– Eu não sei como passei a minha existência longe de você?
– É porque você não me conhecia.
– Você é a mulher que mais mexeu comigo.
– Eu também te amo, Celso.
– Que bom! Então eu estava pensando, se um seio é bom, dois é
ótimo, que tal você colocar um terceiro seio? Vai ser melhor ainda!
Janaína riu, pensou que era brincadeira, mas depois percebeu que
Celso falava sério.
– É verdade, Janaína, eu quero que você ponha o terceiro seio.
Eu pago o melhor cirurgião plástico de Atóri, do Brasil, do mundo.
É só você querer.
– Você enlouqueceu? – perguntou chocada. – Por que eu me
sujeitaria a isso?
Janaína não gostou do pedido de Celso. Saiu da cama e se vestiu.
– Olha, Janaína – insistia ele, – eu penso o dia todo no seu
terceiro seio. À noite, eu sonho com eles. Serão tão belos!
Imagine a cena: você com o terceiro seio e eu te tocando. Será a
melhor coisa que poderá nos acontecer. Faça isso por mim meu amor.
Janaína se mantinha irredutível. Não queria escutar mais nenhuma
palavra sobre aquele estúpido pedido e pediu para ir embora. Mas
Celso continuou insistindo:
– Janaína, por favor, faça isso por mim. Será uma prova de amor.
Assim vou ter certeza que você me ama de verdade.
– Desculpa, Celso, mas eu não vou me deformar para provar que te
amo – respondeu ela, rudemente.
Celso desistiu de convencê-la a mudar de ideia, porém a tratou com
frieza o resto da noite e os dias que vieram a seguir. O namoro
esfriou. Os dois sabiam a razão: o desejo incontrolável dele pelo
terceiro seio, e que Janaína se negava a colocar. O relacionamento
deles estava indo de mal a pior. Então Celso a colocou contra a
parede: ou ela botava o terceiro seio ou ele a deixaria. Janaína não
cedeu à chantagem, sentiu-se ofendida e terminou o namoro.
Nada, nem ninguém foi capaz de acabar com o vazio e a infelicidade
que se apossou de Celso após se separar de Janaína. Nenhum dos seus
amigos conseguia fazê-lo rir como antigamente. Sentar-se entre
princesas não tinha a menor graça. Festas e passeios não
conseguiam apagar da fisionomia dele a expressão de quem permanece
sem um pôr do sol.
Pior do que não ter seu sonho realizado, era ficar longe de Janaína.
Ela era uma mania; uma ideia fixa; uma droga, no bom sentido da
palavra, da qual Celso não conseguia abrir mão. Que saudade dela, a
distância não era mais suportável.
Ele procurou Janaína e, de joelhos, pediu uma nova oportunidade. Ela
exigiu que ele se levantasse, pois não se achava digna de que ele se
humilhasse dessa maneira. Celso obedeceu, e se colocou no lugar de um
réu que está prestes a conhecer o veredicto da juíza. Porém, o
veredicto não foi exibido em alto e em bom som. Materializou-se
através de um abraço e de um beijo, que demonstravam que ela o
perdoava e aceitava reiniciar o namoro.
Acabada a cena romântica, envolvidos ainda naquele clima de alegria
e de emoção, Celso olhou fundo nos olhos de Janaína e disse:
– Prometo que não vou mais pedir para você colocar o terceiro
seio.
– Não diga isso.
– Por quê?
– A ideia de colocar o terceiro seio não me é mais desagradável.
Celso se surpreendeu, não esperava que seus ouvidos fossem invadidos
por tão melodiosa frase.
Durante o período que eles estiveram separados, ela observou que foi
dura e intransigente ao dizer não ao pedido do namorado de forma tão
categórica, sem nem ao menos pensar no assunto. Tinha preferido
distanciá-lo a segurá-lo. Porém, ela mudara de opinião ao
descobrir que tudo vale a pena quando se trata de fazer a felicidade
do parceiro. Preconceito e mesquinharia só desgastam o
relacionamento e o levam ao término mais rápido. Afinal de contas,
o que custa se sacrificar um pouco para agradar quem se ama?
– O quê?! Você quer aceitar colocar o terceiro seio? Tem certeza?
Eu não tô te forçando a nada – disse Celso atabalhoadamente.
– Eu sei, amor. Eu fiquei pensando no que você me propôs e
descobri que estava errada. Resolvi que quero te dar esse presente.
Eu vou ficar feliz ao te ver feliz.
Celso abriu um sorriso daqueles que acabam de ganhar na loteria.
Finalmente Janaína realizaria o maior sonho dele. Pela notícia ter
vindo de maneira inesperada, isso lhe causou ainda mais
contentamento. Jurou que, se tudo corresse como o esperado, se
casaria com a namorada.
Celso visitou clínicas de cirurgia plástica de Atóri, das
redondezas, da capital e de cidades mais ricas da parte de cima do
país. Empenhou-se em encontrar uma clínica que estivesse à altura
de receber Janaína e que fosse modelo de qualidade e
profissionalismo.
Bateu o martelo finalmente. Com tudo preparado, acompanhou a
namorada até a clínica. Segurou na mão dela para acalmá-la,
protegê-la e garantir que nada de ruim lhe aconteceria, até que a
enfermeira a conduziu para a mesa de operação.
A partir daí, Celso não conseguiu mais disfarçar seu nervosismo.
Era muito tenso e excitante saber que uma obra de arte estava sendo
produzida ali no interior da sala de cirurgia. Sentia-se meio como o
coautor da obra, pois a ideia de contratar o artista para fazer o
trabalho saiu de sua cabeça e era graças ao seu dinheiro que a
escultura estava tendo a chance de ser criada.
Alguns dias se passaram. Celso estava louco para conhecer o
resultado da operação plástica. Porém, Janaína disse que só os
mostraria quando tudo tivesse cicatrizado. Ele não gostou muito da
ideia, desejava vê-los logo, pensava neles noite e dia e nada
conseguia ocupar espaço na sua mente. Contudo, não houve jeito de
convencê-la
Celso foi obrigado a esperar. Era necessário ser compreensivo e ser
paciente como monge para não colocar nada a perder. Sabia que em
breve seria recompensado com aquilo que tanto desejava. Recordou-se
que na adolescência agia da mesma maneira para roubar a virgindade
das primeiras namoradinhas.
O grande dia enfim chegou. Para a noite ficar perfeita, inesquecível
e ser semelhante aos dos seus sonhos, Celso alugou uma suíte no
melhor motel da cidade. Tomado por esse mesmo espírito de não se
importar com gastos, deu a Janaína dinheiro para se produzir num
salão de beleza e comprar um vestido, que não deveria ter decote,
porque ele não queria ter nenhuma mostra do presente que receberia
antes do tempo. Também alugou uma limusine para levá-la ao motel.
Quando ela surgiu, ele a recebeu com flores, beijou-a apaixonadamente
e a levou para o quarto. Abriu a champanha, encheu as taças. Eles
beberam um gole se entreolhando como se visualizassem os bons
momentos que viveriam a seguir.
Não suportando mais a ansiedade, ele a guiou para a cama. Rasgou a
parte de cima do vestido e, ao se encontrar com os três seios, levou
um susto. Eles estavam bem diferentes de como fantasiava. Estavam
coladinhos um com o outro, faltava aquele espaço, aquele valinho que
os separava, que ele descobriu naquele momento ser primordial para
achar bonita a parte do corpo das mulheres pela qual tinha adoração.
A figura desagradável em que Janaína se transformara fez Celso
recuar até dar com as costas na porta. Era horrível olhar para os
seios dela, algo tão perfeito até tempos atrás, e constatar que se
encontravam mudados para muito pior com a entrada de um intruso entre
eles.
– Aonde você vai? – perguntou Janaína, tendo um mau
pressentimento.
Celso abriu a porta, apressado. Atravessou-a sem se importar com os
sentimentos da pessoa que deixava para trás. Todo o carinho, ternura
e consideração que possuía por ela haviam batido asas e voado para
além do horizonte. Sem coragem de contar que não a queria mais,
confessar que era apaixonado pelos seios dela e que agora que eles
estavam desfigurados Janaína não lhe servia mais para nada, ele
entrou no elevador e foi embora pretendendo nunca mais olhar para a
cara dela.
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