Desde pequena, Nice era assim, não suportava ver as pessoas falando errado. Ouvir alguém maltratando o português era como se tivesse levando uma facada. Ela não conseguia se controlar e sempre acabava as corrigindo.
Ela sabia que isso poderia criar problema, ser avaliada como chata. super certinha, sem educação. Mas isso era mais forte do que ela. Quando alguém dizia "futibol", ela corrigia logo:
- Não se diz futibol, animal, se diz futebol!
Um dia, ela arranjou um namorado, Adalberto, que era tudo de bom. Carinhoso, dedicado e super atencioso. Mas ele tinha um defeito, o maior que poderia existir para ela. Ele tinha pouca escolaridade e vivia maltratando o português.
A convivência foi se tornando difícil. Ela não conseguia se controlar e vivia corrigindo o namorado a toda hora, em todos os lugares, na frente de amigos e de desconhecidos. Porém, ela gostava do Adalberto e de sentir o corpo escaldante dele debaixo do edredom.
Foi então que eles foram convidados para jantar na casa do patrão de Nice. Tudo corria bem. Adalberto, ouvindo os conselhos de Nice, mantinha a boca a maior parte do tempo fechada. Lá pelas tantas, Adalberto soltou o carangueijo.
Nice protestou:
- Adalberto, o certo é caranguejo e não carangueijo!
E continuou:
- Algumas pessoas tem o direito de serem burras, mas algumas abusam do privilégio. Vocês não acham? - perguntou ao patrão e a esposa.
Ah, para que ela fui dizer isso? Essa foi a gota d'água. Adalberto foi embora na mesma hora. Disse, mais tarde, falando o mais erradamente possível, que não suportava viver ao lado de uma criatura que tinha mania de perfeição e que corrigia as pessoas o tempo todo.
Nice queria continuar sentindo o corpo escaldante dele debaixo do edredom, de boca fechada, claro. Mas Adalberto não quis mais saber dela e colocou fim no namoro.
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