Contos de Ernane Martins

sábado, 22 de outubro de 2016

Príncipe, Silvio Santos e eu


Escrevo já faz algum tempo Perdi a conta até. Durante algum tempo da minha vida, achava que não era capaz de escrever alguma coisa que as pessoas gostassem. Sempre esbarrei na falta de fé e confiança. Mas essa fase passou e eu lancei um livro, Brisa e Vendaval, e agora publiquei um outro, O Tesouro de Eugênio. 

Mais uma vez achei que as coisas iam dar erradas pra mim. As vezes tenho a impressão que sou meio perseguido pela falta de sorte. Todo vez que penso em sair de casa para vender o meu livro, alguma coisa acontece de errado. Dessa vez pensei que ia chover ou ia acontecer alguma coisa com o meu irmão, Aldir, Di para os íntimos, e ele não me levaria a Feira do Príncipe. 

O domingo amanheceu cinzento. O sol pintou e depois desapareceu entre as nuvens quando estava me arrumando. Já pensei que ia chover. O meu irmão também estava demorando um pouco para chegar e comecei a pensar na minha falta de sorte. 



Então o meu irmão apareceu. Perguntou se eu ainda queria ir. Eu não desistiria agora em cima do laço. Ele colocou a minha cadeira de rodas no porta-malas do carro e nós embarcamos rumo a Feira do Príncipe. Um evento que só acontece uma vez por mês, no centro da cidade, tomado por tendas, onde se vende desde roupas usadas, passando por artesanato a objetos antigos. 

Fazia mais de um ano e meio que não participava dessa feira. Como quase nunca participo, eu nem tenho uma tenda para colocar os livros embaixo, para escapar do sol e da chuva. Mas, desta vez, o sol não deu as caras e, contrariando as minhas expectativas, nem a chuva resolveu me aborrecer durante o tempo em que estive expondo o livro ao ar livre, na praça Nereu Ramos. O tempo se manteve nublado para minha sorte. 

Quando o meu irmão me empurrava até a praça, passando por tendas no lado e do outro da rua, vejo o candidato a vereador mais votado da história de Joinville, Fernando Krelling. Ele estava lá com uma equipe de filmagem. Ainda pela manhã, quando o meu irmão saiu pela feira para divulgar o  livro, ele conversou com o futuro vereador e ofereceu o meu livro. Mais tarde, o futuro vereador passou perto de mim e apertou a minha mão. Disse, rapidamente, que o meu irmão era um grande vendedor. Mas ele nem olhou para o livro ou quis comprá-lo. Foi embora junto com a sua equipe de filmagem. 

Em compensação, a dona Lucinda, se interessou pelo meu livro, O Tesouro de Eugênio. Ela me disse que o pai dela se chamava Eugênio. Ela ficou por alguns instantes em dúvidas entre comprar ou não. Eu sou autor desconhecido, cadeirante, vendendo numa feira, onde não se via nenhum outro escritor por perto. Por algum tempo ela se manteve em dúvida entre comprar o livro ou não. Ela ia embora. Mas mudou de ideia. Talvez nunca mais a gente tivesse a chance de se encontrar novamente. Então ela comprou o livro e recebeu um autógrafo do autor. Ainda falei que a história de Eugênio era bonita e ela me respondeu que tinha certeza disso. Disse até que recomendaria o livro para os amigos. 
Como já contei, o meu irmão saiu divulgando o livro pela feira. Além do Tesouro de Eugênio, eu também estava vendendo o meu livro, o Brisa e Vendaval. Uma feirante de nome Andreia comprou o Brisa e Vendaval. Aí ele ofereceu o meu livro para alguns senhores que estavam sentados na praça conversando. Três deles quiseram comprar o meu livro. 

Mas ouve uma confusão. O meu irmão levou até eles dois exemplares do Tesouro de Eugênio e um Brisa e Vendaval. Mas o seu Jamel disse que também queria comprar o Tesouro de Eugênio. O meu irmão falou que voltaria a mesa onde eu me encontrava com os livros e traria para ele o exemplar do Tesouro de Eugênio. Mas o seu Jamel não quis, disse que ficava com o exemplar do Brisa e Vendaval. O meu irmão me contou o que aconteceu. Depois ele teve a ideia de fazer uma cortesia para o seu Jamel, vender O Tesouro de Eugênio pelo valor de 10 reais. O seu Jamel não só aceitou a proposta, como ficou muito feliz com a nossa cortesia.

Uma hora, quase a minha frente, uma mulher começou a tirar fotos da fachada de um prédio antigo. Na rua do Príncipe há vários prédios históricos, em baixo se encontram estabelecimentos comerciais, mas, no alto, as fachadas antigas se mantêm intactas. Depois ela e marido vieram conversar comigo. Eles disseram que estavam procurando por antiguidades e que vieram de Rio do Sul. O Almir e a Regina compraram o meu livro. Como disse muito bem o meu irmão, eles vieram atrás de antiguidades e levaram para casa uma novidade. 

Por volta do meio-dia, no palco atrás de mim, começou o show de palhaços. Era semana dos dias das crianças. Muitas delas andavam pela praça e foram assistir ao show. Então foi aí que o Silvio Santos apareceu. Não o verdadeiro, mas um imitador. Como ele estava em companhia de palhaços, entreteu e levou a criançada as gargalhadas. 

Quando a tarde começou, meu irmão e eu tínhamos vendido mais de 10 livros. Então a praça começou a ficar menos movimentada. Poucas pessoas pararam para conversar comigo. Não consegui vender mais nenhum livro durante a tarde. Não me lamentei. Já tinha ganhado o dia vindo até a praça. 

 Uma hora, vi uma moça de chapéu vermelho andando no outro lado da rua. Tinha a sensação que se ela me observasse compraria o meu livro. Algumas pessoas têm receio de se aproximar de deficiente físico. A gente não morde, só pra avisar. Mas ela não me observou. Não sei porque estou escrevendo sobre ela. Tantas pessoas passaram por mim, voltei a ver uma antiga leitora e o casal que paguei para fazer revisão do Tesouro de Eugênio. Será que vi características nela para um bom personagem? Ela parecia ser uma pessoa especial, caminhando com os amigos, conversando com os outros feirantes e admirando os artesanatos sem nenhum preconceito. Ou poderia ser uma sociopata, enganando a todos e fingindo ser uma pessoa adorável.

Como não vendi mais nenhum livro, foi a hora de tirar fotos.

eu e o meu irmão, Aldir

Nossa amigo Juliano e eu segurando o  livro





3 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado. Devagarinho estamos vendendo. Vende uma aqui, outro lá. Tem que sair, parado em casa nao vende nenhum. Boa noite

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...